25 de agosto de 2009

reinventando a roda

Aqui vai um texto que fiz para a edição do catálogo do Malofiej 16 sobre variedade de linguagens de ilustração em infografia.

Na infografia existem milhares de linguagens gráficas para se contar uma história. Geralmente, quando falamos em breaking news, a linguagem escolhida por jornais e revistas pelo curto tempo para execução e para preservar autoridade da informação é o vetor, o 3D ou foto. Mas há muitas outras que podem ser usadas: quadrinhos, aquarela, cartoon, colagem...

A escolha do caminho gráfico ajuda a definir o tom de voz com que a informação é direcionada ao leitor, adicionando respeito, irreverência ou humor. Não existe uma regra para dizer qual das linguagens deve ser escolhida, qual delas é certa ou errada, o que existe é bom senso. Uma adequação entre o assunto tratado e o público a que a informação se destina.

O que pode acabar acontecendo ao longo do tempo é que quando os temas começam a se repetir, as soluções gráficas se tornam automáticas, óbvias, muitas vezes assépticas.
Temas de história e saúde são tratados com ilustrações realistas.
Temas de ciência e tecnologia com vetor ou 3-D.
O que proponho aqui é um exercício para a fuga do óbvio, a experimentação de novas soluções gráficas para que o leitor seja surpreendido e não tenha a sensação de que as notícias se repetem.

É possível que o departamento de arte reinvente sua própria roda e se supere diariamente. E melhor ainda, é possível fazer isso e fortalecer a personalidade do projeto gráfico. Foi isso que observei ao longo dos meus 6 anos como editora de arte da Revista Mundo Estranho. Através das experimentações foi possível fidelizar o público alvo de leitores: meninos de 12 a 20 anos imersos em novidades diárias da internet, da televisão, dos games... Fazendo uso de uma linguagem eclética, cheia de humor e emoção quebramos os tabus da formalidade na infografia e conquistamos um leitor sedento por novidades e pronto para ser cada vez mais surpreendido.
Muitas vezes se uma solução funcionou bem uma vez, a tendência é cair nela todas as próximas vezes. Pra que trocar o certo pelo duvidoso, alguns diriam. Algumas vezes concordo que seguir o seguro tem sua serventia. Mas se libertar do comodismo e se questionar sempre o porquê de um caminho, de qual jeito a história quer ser contada mas ainda não foi é sempre evolutivo. Há sempre uma maneira nova de se tratar o mesmo assunto. Sempre há um caminho novo a ser trilhado.

>>Falando de Saúde


Um tema presente em todas as edições da Mundo Estranho. Já utilizamos linguagem realista, ilustração meio cartoon para falar de temas nojentos com mais humor. Quando tivemos que falar sobre o transplante de coração, o desafio era mostrar as imagens sem mostrar tanto sangue. As fotos que recebemos como referência eram confusas. Fizemos então uso de quadrinhos. A informação ficou mais clara, a presença do sangue não causou tanto mal-estar e o resultado ficou mais atrativo.

>> Adequando a linguagem da ilustração ao tom da revista


A pauta era para explicar a sensação de formigamento da perna. Resolvemos ilustrar um corte de um garoto sentado num vaso sanitário.
Quando recebemos a ilustração, achamos queo resultado não chamava tanta atenção, havia ficado muito burocrático e poderia estar publicado em qualquer outra revista de saúde. Além disso, a piadinha do vaso sanitário ficou perdida e não dava para entender. Como havia tempo ainda, passamos os estudos para outro ilustrador que construiu o personagem em massinha. O infográfico acabou ocupando menos espaço, e o resultado final ficou mais divertido e impactante.

>> História e tecnogia não precisam ser realistas

Já utilizamos ilustração realista e quadrinhos e brinquedos, estas duas últimas linguagens são próximas da realidade do leitor e os resultados são bem divertidos.





>> Reinventando a roda mesmo











Das coisas que se repetem muito na Mundo Estranho, por ser uma revista de curiosidade para meninos, são perguntas relacionadas ao pênis. Já ilustramos diversas situações. Fomos de quadrinhos, a fotos, ilustrações realistas, massinha, vetor... Aqui é um exemplo de que as possibilidades são infinitas e não se esgotam.

>> Construindo a personalidade
Aqui é um exemplo de como o tratamento gráfico ajuda a fortalecer a personalidade da revista.
O primeiro infográfico é sobre a digestão, tratado de forma realista, poderia estar em impresso em vários outros títulos.
O segundo é praticamente a mesma coisa: explica como é formado o cocô.
Não deixa de ser digestão, mas a pergunta formulada dessa maneira e o infográfico resolvido de forma esquemática apresentando o corpo humano como uma grande máquina é um layout único, divertido e curioso que só poderia estar impresso na Mundo Estranho.



Num primeiro momento parece fazer mais sentido experimentar graficamente em revista. O tempo de execução é maior, o público alvo é bem mais definido – e se esse público for jovem, mais aberto a novidades estará.

A cada dia que passa os meios impressos vão perdendo seus leitores mais velhos.
É preciso tentar atrair e fidelizar o jovem. Experimentar graficamente pode ser um caminho para se fugir do óbvio, para gerar novidade e cativar esses leitores. Nos últimos anos, a Mundo Estranho foi um dos títulos que mais apresentou crescimento de vendas, num mercado onde os números caem e o jovem é tido como aquele que não lê.
As perguntas que deixo são:
Os meios impressos estão falando com esse jovem?
É o jovem mesmo que não lê ou ninguém está produzindo material que interesse a ele?

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